domingo, 12 de outubro de 2008

Dia de festa no Valo Velho

O assunto “eleições” é inesgotável. Lá na província, foram para o segundo turno o dono da meia Pajero contra a chapa da senhora dos R$ 15 mil em linhas telefônicas. A dona da academia não levou. Depois de sete anos sem ver esta professora, encontrei a bela no casamento de amigos dos tempos do colégio. No casório, dois sapos goela abaixo e um Eu Perguntava Do You Wanna Dance depois, topamos, eu e meu irmão, com a bonitona. Ela não fazia a menor idéia de quem eu era. Talvez tivesse uma vaga lembrança da fisionomia do meu irmão, já que o garoto é Pop. Mas ela me abraçava tanto que me senti no auge do populismo de Getúlio ou JK. A pergunta não poderia faltar: “Vocês estão sabendo que eu sou candidata a...” Interrompi: “Sim, professora. Recebi seu e-mail”. (Encaminhado pela Rê com o algo do tipo no campo do assunto: ONDE ESTE MUNDO VAI PARAR??) “Então, vocês...” tentou e eu mandei: “Nós não votamos aqui”. Meu irmão quase arruinou a lorota, mas se recompôs. Tentando ser educado, perguntou o número dela. “XX.666”. Eu me contorcia pra não soltar a piada, quando ela mesma se encarregou: “Meus alunos inventaram um slogan. Besta por besta, vote na besta da XXX”. Eu não falei nada, foi ela!

No domingo da eleição, fui buscar a Mari (sempre a Mari). Ela ia me ajudar com um trabalho da faculdade. A Pa, gente finíssima amiga dela, fala em linguagem de sinais e eu queria filmar. Justificamos nossos votos (não entendeu, lê o post anterior) e fomos para a festa beneficente em que Paola e família estavam ajudando. “Se prepara que nós estamos indo para a faixa de Gaza” manda a Mari. E lá fomos eu, Mari e negão para o extremo sul de São Paulo, divisa com Itapecerica da Serra, o literal fim do mundo. Lá onde não chega saneamento, educação, saúde, cultura , internet sem fio de graça, carrega-na-catraca-carrega-na-catraca-carrega-na-catraca, sorria-meu-bem, lei cidade limpa ou obras tipo ponte estaiada . Em algumas ruas, o asfalto não chegou. Luz elétrica é gato.

Coincidência ou não, lá estávamos nós, lugar que a política pública deve observar via Google Maps, em um domingo de eleição. Na sexta feira anterior eu e a Mari tentávamos inutilmente convencer uns garotinhos de que o pensamento deles era medíocre. Eles não acreditavam no Kassab, não conheciam suas propostas muito menos seu passado. Afirmavam com veemência que votariam nele para a Marta não ganhar. E qual é a diferença? Nós ficamos sem a resposta e um deles ficou com o número errado do celular da Mari, hehe.

De volta ao Valo Velho, como é conhecido do bairro em que estávamos, a festa rolava em um orfanato, um tipo de abrigo daqueles para os quais crianças em situação de violência ou risco são mandadas pelos Conselhos Tutelares. O termo politicamente correto, segundo aprendi nos tempos de JO, é crianças vitimizadas. Lê-se: expostas a todo tipo de perrengue, violência, estupro, alcoolismo, trabalho infantil etc., etc., etc.

Era uma festa de dia das crianças.

No caminho de volta, nem eu, nem a Mari sabíamos direito o que dizer. Um mega nó na garganta permitia apenas alguns comentários vagos. As ruas estavam cheias de santinhos de candidatos pelo chão. De volta a Beverly Hills na segunda feira, a patota comemorava a vantagem do Kassab no primeiro turno. Na periferia, a Marta ganhou disparada.


Eu ainda me pergunto qual é a diferença.


PS: Obrigada Mari. Por tudo.