quinta-feira, 30 de abril de 2009

Minhas joaninhas

Pós-aula:

França: Vamos tomar um café?

Brasil e França na Union Square. Café, marble loaf, marlboro.

Um ser se senta no banco ao lado e pergunta se Brasil e França falam com estranhos. França responde: “Por que não?”, já Brasil “...”.

Ser, que se revela from Brooklyn, diz que está confuso, chateado e... bêbado. França pergunta o motivo de tanta frustração. “Minha namorada acha que sexo anal é mais normal do que oral. Ela acha que a boca é limpa, que você beija a sua mãe com a boca. Já a bunda...”, diz Brooklyn. Brasil: “Puta que pariu, é hoje”, no bom, velho e amigo Português. Sabe como é, calça jeans e tênis, quanto mais surrados, mais confortáveis.

Brooklyn oferece um cigarro. França aceita. Brasil agradece, mas recusa. Afinal, cigarro por aqui é muito, muito caro, logo, há algo errado. Brooklyn então pergunta o que fazem Brasil e França nesta cidade de psicóticos. França, sempre solicita, responde: “Estudantes. E você?”. “Eu vendo drogas”.

Dez minutos e algumas observações sobre Bush X Sarkozy depois, Brooklyn se levanta, se despede e caminha em direção à banda de rock que se apresenta na praça. O refrão berrado diz I love you, vampire... Um tiozão, sessenta e poucos, gira, gira, gira empolgado com a música. Brasil pensa: seria o tio pai de um dos integrantes da emo-banda, ou estaria ele perdido no chá de Woodstock até hoje?

Brasil: Vamos na farmácia? Preciso comprar cigarro.

França: Ótimo. Preciso comprar sabonete líquido por causa da gripe suína.

Brasil acende um cigarro, olha para cima. Um prédio está pegando fogo. Bombeiros, polícia, imprensa, vidros estilhaçam com o calor. França e Brasil assistem ao caos. Nada sério, nada de grandes estragos. Só o som da paranóia de uma cidade sempre à espera de um ataque terrorista.

Brasil e França esperam o metrô ao som do mesmo cantor folk de toda quinta-feira. França vai para o Brooklyn, seu trem chega antes. Enquanto espera, Brasil cisma com a calça rasgada do cantor folk. Uma garota se aproxima de Brasil: “Você quer uma amostra grátis de camisinha? Estamos promovendo esta campanha a favor do sexo seguro e planejamento familiar”.

A caminho de casa, um executivo que veste terno preto, camisa preta, pasta preta e sapatos de bico fino azul turquesa se equilibra no metrô. O trem pára, hora de trocar de linha. Brasil sobe as escadas e, ao passar pela banca de jornais, avista seu amigo cantor folk comprando chicletes.

Já em frente de “casa”, Brasil passa na farmácia para comprar água e o jantar da quinta-feira. Brasil decide então deixar de ser mão de vaca e comprar o adaptador de tomadas para, enfim, usar a chapinha. Brasil agora pode ir para Europa, Caribe, Japão, Canadá, America do Sul, Austrália, China, Fiji, Nova Zelândia, Oriente Médio, África, Hong Kong, Singapura e partes da Grã-Bretanha e Irlanda sem medo do frizz nos dias úmidos.

Ao abrir a porta de “casa”, Brasil vira babú. Eu. Primeira pessoa de novo. Minha roupa para lavar, minhas fitas para organizar, meu livro para terminar de ler antes que meu entrevistado do próximo filme volte para o país. As joaninhas do meu computador me olham e atiçam: E aí? Não escreve mais não?

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Yes we can


Estou neste país de doidos há um mês e seis dias. Para alguns dos doidos, hoje foi um dia de lavar a alma, chorar, ter orgulho de ser americano. Para outros, de tirar um peso da consciência e se preparar para o próximo passo. Fato: não é o país todo que está feliz com a transição política que se oficializou hoje, mas a grande maioria está, no mínimo, aliviada e esperançosa.


Esta terça-feira me trouxe a lembrança da posse do Lula em 2003. Brasília lotada de pessoas, um cara incomum chegando ao poder. Obama não é perfeito, salvador da pátria, milagreiro. Também não tem lá as propostas mais consolidadas e extravagantes em relação à guerra, imigração ou energia. Mas ele chegou lá, ponto.


Ok, as eleições por estas bandas são bem diferentes das nossas, e nem ele é um metalúrgico vindo do chão de fábrica. Mas Obama é sim um homem negro que chega ao poder após oito anos de Bush – este, coitado, saiu mais escorraçado do que argentino quando toma chocolate do Brasil em solo nacional. Aqui se faz...

Enfim, a mudança foi abrupta, não houve um processo de transição entre o capeta e um negro com origens islâmicas. Lembrar não faz mal: negros têm direito a voto há apenas 40 anos. "Apenas" sim.

Babú opina: Yes we can. Se eles podem mesmo, eu não sei. Se os americanos vão fazer deste um país mais justo, menos hipócrita, desigual e, especialmente, desleal com outras nações é a pergunta que eles não sabem – ou não querem – responder por enquanto.


Ok, eu estou em uma cidade democrata por definição e, sim, as pessoas por aqui, ao que parece, vêem o mundo de uma maneira mais única, interdependente. Porém, o desperdício de comida e descartáveis é absurdo, o consumismo é exagerado, o uso da eletricidade é irracional, a geração de lixo é descomunal. É... A vida por aqui é super size.


Portanto, eu não sei se eles podem, mas pensar em mudar é um começo. E acompanhar de perto um ano desta tentativa será... Bom, babú não sabe, mas conta aos poucos.

Foto do dia: mandou bem, hein papai? Agora só não esculhamba, né?


Ah, sim. Resumo do mês: pé na jaca. Porque eu me apropriei por usucapião do inexistente verbo jacar. E já faz alguns anos...